terça-feira, 5 de junho de 2012

A tecnologia é a culpada por falhas em projetos de tecnologia da informação?



Eu já fui responsável e já participei de diversos projetos de tecnologia da informação. Já fui responsável por integrações de sistemas via Internet, implantações de pacotes de mercado, construção de soluções de negócios desenvolvidas do zero e implantação de ERP. Uma discussão constante em projetos de informática é o quanto o uso de uma nova tecnologia, seja nova no mercado ou nova para o grupo que a está implementando, é a culpada por atrasos, aumento de custo ou cancelamento dos projetos.

Bom, resolvi analisar os projetos que já fui responsável, e alguns que participei, pra tentar perceber se há esta correlação entre usar novas tecnologias e o grau de insucesso dos projetos. Listei os projetos e apontei em quantos deles usei tecnologias novas de mercado, assim como em quantos deles usei tecnologias novas para o time de projetos. Usei como critério de sucesso se o projeto terminou próximo aos prazos e custos previstos e implementou o escopo previsto, ou se um aumento de prazo e custo estava atrelado a um aumento de escopo. Considerei insucesso, por sua vez, casos de aumento de prazo ou custo sem aumento de escopo (estouro de prazo e custos previstos), ou de cancelamento do projeto.

Daí consegui enxergar com clareza que, na minha amostragem, não há uma correlação direta entre o quanto a tecnologia é nova (para o time do projeto ou para o mercado como um todo) e o insucesso do projeto. Pelos critérios que estabeleci, encontrei aproximadamente 28% de projetos de insucesso que fui responsável ou participei - independente dos motivos - e em nenhum deles há uma tecnologia nova de mercado, assim como em apenas um deles há uma tecnologia nova para o time técnico. Olhando, por outro lado, os bem sucedidos, há as mais diversas combinações entre tecnologias novas de mercado e novas para o time de projetos.

Testei, então, um segundo fator que sempre considerei ter uma correlação direta com os projetos de insucesso: o quanto o time de projetos trabalhava bem junto (aqui considerado o "grande time", formado pelo time técnico somado ao time de clientes, usuários e usuários chave), ou seja: havia um bom relacionamento entre as pessoas e confiança entre as partes. Julguei os projetos um a um para classificá-los conforme me lembrava dos times e aqui fiquei surpreso: a correlação é absoluta. Onde o time funcionou bem, o projeto caiu nos meus critérios de bem sucedido. Onde o time não funcionou bem, o projeto caiu nos meus critérios de insucesso.

Essa correlação não deve ser uma surpresa para pessoas acostumadas com projetos de tecnologia, que, certamente, já a perceberam intuitivamente, mas o que me chamou atenção foi que, ao menos nos projetos que já toquei, a correlação é absoluta. Sempre que houve falha em ter um time bem formado, no sentido de que as pessoas trabalhem bem juntas, o projeto terminou com escopo incompleto, prazos e custos estourados, ou cancelado.

Sabemos que as tecnologias novas requerem uma curva de aprendizado e toda uma atenção deve ser dada a essa necessidade, mas a formação da equipe no começo de um projeto me parece ser fundamental para o sucesso no final. Os projetos de TI são, via de regra, bastante complexos e tendem a gerar conflitos pela grande quantidade de pessoas envolvidas, assim como a necessidade constante de decisões. A confiança mútua entre os membros da equipe e o bom relacionamento acabam, a meu ver, mitigando estes problemas potencias.

Um excelente livro sobre o assunto é o Peopleware, do DeMarco, que trata todas as facetas da formação de uma equipe além de analisar a importância que isto tem no final bem sucedido de um projeto de tecnologia da informação.

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